São Vicente, padroeiro de Lisboa, é o principal mártir da Hispânia (Península Ibérica durante o Império Romano).
No início do séc IV a perseguição de Diocleciano abateu-se com especial crueldade sobre as comunidades cristãs. Nesse contexto, Vicente de Saragoça recusou as práticas de adoração às divindades tradicionais e, por essa razão, foi levado para Valência onde foi martirizado no ano de 304.
Os soldados romanos abandonaram o corpo de forma a que este fosse comido pelos animais, mas em vão, porque os corvos o ptotegeram dos outros predadores. Este foi o primeiro milagre de S. Vicente e o início da sua ligação a estas aves. Então os legionários decidiram cortar o mal pela raiz e ataram o corpo a uma pedra de moinho e lançaram-no ao mar. Com grande espanto de todos, passados dias o corpo deu à costa, livre da pedra e das amarras.
Séculos mais tarde, já durante a ocupação islâmica, os seguidores de S. Vicente tentaram levar os restos mortais do santo para as Astúrias (norte de Espanha), mas as incidências da viagem acabaram por fazer com que as relíquias fossem depositadas na costa do Algarve (sul de Portugal).
Quando o primeiro rei de Portugal (Afonso Henriques) conquistou Lisboa (1147) iniciou o processo de localizar e trazer as relíquias de S. Vicente para Lisboa. Para isso enviou uma primeira expedição, que não teve sucesso. Mais tarde, em 1173, Afonso Henriques enviou uma segunda expedição, que finalmente localizou o túmulo do santo. Os restos mortais foram então colocados numa barca que subiu a costa em direcção a Lisboa, escoltada por dois corvos, um à frente e outro atrás.
Na Lisboa medieval, a Baixa não era tão plana como hoje e havia um braço de mar que chegava até perto do Rossio actual. Nessa zona existia a Igreja de Santa Justa onde a barca escoltada pelos corvos finalmente encalhou. Os restos mortais de S. Vicente repousaram na Igreja de 15 para 16 de Setembro de 1173. S. Vicente já era venerado em toda a cidade de Lisboa e as suas relíquias foram disputadas pelas comunidades da Igreja de São Vicente e também da Sé de Lisboa. Por intervenção real, as relíquias foram então levadas em procissão até à Catedral de Lisboa (na época ainda em construção), onde se encontram até hoje.
Quem quiser ver as relíquias do santo, terá de participar na missa que se realiza na Sé no dia 22 de cada mês de Janeiro.
Depois de 1173, a cidade de Lisboa adoptou São Vicente como seu santo e protector e ao fazê-lo, adoptou também a barca e os corvos como símbolo da cidade. É impossível passear em Lisboa sem encontrar a barca e os corvos em toda a parte, nos desenhos da calçada, nos candeeiros da Baixa, nos uniformes dos funcionários da Câmara Municipal e nos seus veículos.